quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Discurso do Embaixador Mexicano




"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a encontraram só há 500 anos. O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para eu poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento, com juros, de uma divida contraída por um Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse.
Outro irmão europeu, um rábula, me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem lhes pedir consentimento.Eu também posso reclamar pagamento, também posso reclamar juros. Consta no Arquivo das Índias.
Papel sobre papel, recibo sobre recibo, assinatura sobre assinatura que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América. Terá sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao Sétimo Mandamento! Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão. Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas que qualificam o encontro de "destruição da Índias" ou Arturo Uslar Pietri, que afirma que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos retirados das Américas!
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de outros empréstimos amigáveis da América, destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.
Eu, Guaicaipuro Cuatémoc, prefiro pensar na hipótese menos ofensiva. Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "Marshal-tezuma", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, do banho diário e outras conquistas da civilização.Por isso, ao celebrarmos o Quinto Centenário desse Empréstimo, poderemos nos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo desses recursos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indo-americano Internacional? É com pesar que dizemos não.
No aspecto estratégico, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem um outro destino, a não ser terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como um Panamá, mas sem o canal.No aspecto financeiro foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros, quanto se tornarem independentes das rendas liquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar. E nos obriga a reclamar-lhes, para o seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos para cobrar.
Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros que os irmãos europeus cobram aos povos do Terceiro Mundo. Nós nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos emprestados, acrescidos de um módico juro fixo de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos.Sobre esta base, e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos “descobridores” que eles nos devem 180 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300. Isso quer dizer um número para cuja expressão total seriam precisos mais de 300 cifras, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata! Quanto pesariam, calculados em sangue? Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para pagar esses módicos juros seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demência irracional dos pressupostos do capitalismo. Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam aos indo-americanos.

Porém, exigimos a assinatura de uma carta de intenções que discipline os povos devedores do Velho Continente e que os obrigue a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permita nos entregá-la inteira como primeira prestação da dívida histórica."

- Embaixador do México em pronunciamento nas Nações Unidas, anos atrás.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Aos Revolucionários







Ao povo, revolucionários! Esqueçamos as divergências dispersivas, chega de perda de tempo e energia. Chega de conflitos inúteis, de disputas ideológicas estéreis. O inimigo é a ignorância, a inconsciência em que se encontra a esmagadora maioria, pela sabotagem sistemática da educação e das comunicações.  Sem a população, somos poucos, somos dispersos, somos quase nulos. Espalhemo-nos nas favelas, nas baixadas, em meio à maioria. Saiamos dos auditórios, das agremiações, dos pequenos grupos ideológicos. Olhemos a história! Conscientizemos! Aprendamos a linguagem popular. Desçamos dos pedestais acadêmicos! Abracemos a população, sem ela nada valemos. Ensinemos o que aprendemos e é negado à maioria, como um dever moral. Precisamos ir ao povo, nos misturar com ele, viver sua vida e não esperar que venha a nós. Aprendamos o vocabulário da maioria e expliquemos de coração aberto. Falta de conhecimento não é falta de personalidade, respeito é fundamental. Quem sabe mais tem a obrigação moral de ensinar a quem não sabe. Não culpemos, nem desprezemos a ignorância plantada há tantas gerações. Há saberes e sabedorias além dos conhecimentos acadêmicos. Tenhamos paciência, perseverança, persistência e humildade. Ao não sermos compreendidos, compreendamos, procuremos em nós mesmos as falhas, tentemos mais e mais e sempre. Conscientizemos sem cores, sem doutrinações, a maioria não percebeu como funciona o Estado, como somos roubados em educação, em informação, em dignidade, em direitos básicos, como somos manobrados. Às favelas! Às periferias! Aos excluídos! Aos sabotados! Aos explorados! Aos marginalizados!  A humildade, sim, é revolucionária. A solidariedade é revolucionária. Chega de vociferar contra os opressores, a opressão é construída com os oprimidos, sem o seu consentimento e colaboração não há opressão, é hora de esclarecê-los, de falar sua língua. É hora de oferecer sem cobrar, de esclarecer sem doutrinar. O trabalho é longo, árduo, profundo. Precisamos doar nossas vidas. A generosidade é revolucionária, a abnegação é revolucionária. Contestemos a vida mesquinha e sem sentido, recuperemos a auto-estima destroçada pelo massacre secular, revelemos os valores mentirosos plantados no inconsciente coletivo e os reais valores, soterrados sob toneladas de valores falsos e descartáveis. Revelemos o poder do coletivo, tão massacrado, tão desprezado, mas tão indispensável à estrutura social. Somos a base e o poder, estamos anestesiados, adormecidos e cooptados. Despertemos!
Revolucionários de qualquer linha ou tendência, chega de dispersão! Chega de arrebanhamento e divisão!

Às ruas! Às favelas! À pobreza! Às

multidões!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

MANIFESTO EM DEFESA DA FLASKÔ SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES

Pela imediata declaração de interesse social da Flaskô, da Vila Operária
e da Fábrica de Cultura e Esportes.


Em 12 de junho completam-se oito anos de ocupação e controle operário na fábrica Flaskô. Diante da crise capitalista e a decisão dos patrões de fechar a fábrica os operários e as operárias levantaram a cabeça e organizaram-se para manter a fábrica funcionando na luta em defesa dos empregos. Ocupando a fábrica e tomando seu controle.

Sem o patrão e a partir do controle operário, da democracia operária, foi reduzida a jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução nos salários.

Sem o patrão, os operários e as operárias em conjunto com famílias da região organizaram a ocupação do terreno da Fábrica e constroem hoje a Vila Operária e Popular com moradia para mais de 560 famílias.

Sem o patrão, os operários e as operárias reativaram um galpão abandonado e iniciaram o projeto
“Fábrica de Cultura e Esporte”, com teatro, cinema, judô, futebol, balé e dança. Além de cursos e atividades de formação

Desde o início os operários defenderam a estatização da fábrica sob controle dos trabalhadores diante das dívidas dos patrões com o estado.

Desde o inicio os operários e operárias se somaram a luta do conjunto da classe trabalhadora. Defendendo a reforma agrária junto com os trabalhadores do campo, defendendo a luta pelas moradias com os operários na cidade, defendendo os direitos e a luta contra os patrões em dezenas e dezenas de fábricas. Defendendo os serviços públicos como saúde e educação junto ao povo e aos trabalhadores do setor publico.

Lutaram desde o inicio pela reestatização das ferrovias junto aos ferroviários, pela reestatização da Vale do Rio Doce e da Embraer, por uma Petrobrás 100% estatal.

Os operários e operarias da Flaskô organizaram, junto ao Movimento das Fábricas Ocupadas em conjunto com os operários da Cipla e Interfibra 8 caravanas a Brasília para exigir a estatização da fábrica.

Os operários e as operárias organizaram conferências, seminários, encontros nacionais e internacionais, além de manifestações por todo o Brasil sempre discutindo com sua classe os caminhos da luta.

Hoje, desenvolvem campanha para que a Prefeitura de Sumaré-SP declare a Fábrica e toda a sua área de Interesse Social, dando um passo no caminho da desapropriação das propriedades do patrão para a sua definitiva estatização sob o controle dos trabalhadores.

Por isso convocamos todas as organizações operárias, estudantis, sindicatos, partidos e organizações políticas, personalidades a ajudarem os trabalhadores da Flaskô a irem até a vitória subscrevendo este manifesto e multiplicando iniciativas de apoio a Declaração de Interesse Social da Flaskô permitindo com isso a regularização de 560 moradias na Vila Operária, permitindo a transformação da Fábrica de Cultura e Esportes num verdadeiro centro cultural e esportivo público, e mais do que tudo isso, estatizando a fábrica, tornando-a pública, sob o controle dos operários que resistem há oito anos com seu suor e luta.

Sumaré, 25 de abril de 2011.